×

Conferência Integridade no Desporto – Os (novos) desafios

Realizou-se na manhã do dia 7 de setembro, no Palácio da Bolsa, no Porto, a conferência promovida pela RBMS no âmbito da 4ª edição do evento mundial Sport Integrity Week 2023.

Na sessão de abertura desta iniciativa o Presidente da Câmara Municipal do Porto, Dr. Rui Moreira, o Presidente da Associação Comercial do Porto, Dr. Nuno Botelho, e o CEO da SIGA, Dr. Emanuel Macedo de Medeiros, nos seus discursos, agradeceram a realização do evento na cidade e enalteceram a importância da discussão e promoção da integridade na prática desportiva.

José Ricardo Gonçalves, Sócio da RBMS e Árbitro do Tribunal Arbitral do Desporto, fez uma palestra introdutória sobre a temática na qual destacou os cinco “golos” (objetivos) da Sport Integrity Global Alliance, “Boa governação, Ética, Responsabilidade, Legalidade e Escrutínio”, como motores de uma conduta que deve ser exercida nesta atividade.

Seguiu-se um intenso debate, moderado pelo experiente jornalista e apresentador de televisão Carlos Daniel, que permitiu ao ilustre painel de convidados expor, dentro de cada área de atuação, a sua experiência, as ações desenvolvidas e quais as melhores práticas para a criação de uma conduta ética de excelência e para o combate à corrupção na indústria desportiva.

Jorge Lobato, Secretário-Geral do Mecanismo Nacional Anticorrupção, apresentou as missões deste organismo Público, recém-criado, e os desafios que têm pela frente destacando uma medida que está a ser trabalhada com o Ministério da Educação, nomeadamente a realização de ações de sensibilização e formação nos Estabelecimentos de Ensino.

Pedro Moura, Presidente da Direção da European Table Tennis Union, enquanto representante de uma modalidade de prática individual, que é mais sensível a receitas desportivas, tem desenvolvido esforços na formação e sensibilização de atletas e familiares para combater o aliciamento e corrupção na modalidade.

Filipa Soares, Procuradora do Ministério Público (DIAP Porto), esclareceu que os processos judiciais referentes a corrupção, dopagem e mais recentemente o “match-fixing” (manipulação de resultados desportivos) são bastante morosos quer pela dificuldade na investigação quer pela articulação de diversas entidades oficiais e, para que seja promovida uma cultura de ética e prevenção de risco, é necessário serem criados mais canais de denúncia e divulgação dos mecanismos de proteção de denunciantes.

Joaquim Evangelista, Presidente da Direção do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, numa intervenção bastante reativa, referiu que é necessário discutir regulamentação e governação pois, na modalidade que representa, existem muitos interesses financeiros. Considera que os atletas ainda se sentem desprotegidos e que é necessário agir em defesa dos valores enquanto cidadãos promovendo formação sobre estas matérias, a começar pelos clubes distritais e pelos primeiros escalões.

Luciano Gonçalves, Presidente da Direção da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, defendeu a sua classe que é constantemente descredibilizada, alvo de agressões e manifestou a sua preocupação com as apostas desportivas que subsidiam esta indústria e que põem em causa a integridade e a verdade desportiva.

Pedro Sequeira, Presidente da Direção da Confederação dos Treinadores de Portugal, falou da importância do papel do treinador no desenvolvimento de competências e na análise do comportamento dos atletas, para prevenir e resolver problemas, e destacou que no exercício desta profissão o Treinador deve ser visto como um “Exemplo”.

Tiago Rodrigues Bastos, Sócio da RBMS e Árbitro do Tribunal Arbitral do Desporto, encerrou a discussão salientando, quer pela sua experiência profissional quer pelo conhecimento público, problemas estruturantes nesta indústria, tais como a inexistente cultura de denúncia, a falta de reflexão sobre a continuidade de más práticas após condenação, a falta de “fair-play” de dirigentes de clubes desportivos, entre outros exemplos. Ao terminar a sua intervenção teceu ainda um caminho que poderia ajudar a diminuir estas ameaças à integridade e a gerar economia sem desigualdades, nomeadamente, tornar as Ligas Profissionais mais competitivas e existir regulamentação sobre direitos desportivos.

No final de todas estas reflexões Carlos Daniel deu a palavra à plateia, para exporem dúvidas ou questões, e concluiu o debate referindo também que é premente pôr fim ao ódio e que deve ser promovido o reconhecimento/respeito pelo mérito do adversário.

A conferência terminou com uma conversa entre Carlos Daniel e João Sousa, atleta profissional de ténis, que falou não só da exigência da sua modalidade, onde a competição se realiza quase todas as semanas e é alvo de aliciamento em termos económicos para competições internacionais, como revelou as suas estratégias para conseguir lidar com a pressão social e manter o foco, tendo sempre pautado a sua atividade pelos valores que lhe foram incutidos.

Veja aqui o vídeo.